Em janeiro de 1500 Cabral se prepara para a segunda expedição marítima portuguesa com destino às Índias. Seu antecessor, Vasco da Gama, havia sido coberto de fama e riqueza com o sucesso da sua empreitada naval de 1498, a primeira vez que um cristão do Ocidente alcançava uma cidade comercial indiana, por via marítima. Estima-se que esse empreendimento comercial tenha rendido um lucro espantoso, da ordem 800%.
A segunda viagem por certo não seria tão famosa quanto a anterior, pois a façanha da novidade normalmente se reserva ao pioneiro. De qualquer forma, as expectativas dos envolvidos deveriam ser bem altas. Na primeira se sabia muito pouco sobre os mercados de Calicute e sobre os ritmos das monções, na segunda por certo já se sabia mais. E o saber tudo isso melhorava e muito o planejamento de custos e provisionamento de recursos. Afinal de contas, apesar de toda a saga de aventura nessas histórias, tratava-se de uma empreitada comercial. Treze navios e 1200 homens era o tamanho da força mobilizada para a nova viagem.
Se para os investidores italianos florentinos e genoveses a preocupação maior era comercial, para a monarquia portuguesa juntava-se também a preocupação militar a religiosa. Desde o início das explorações marítimas na costa africana na época do infante D. Henrique, reis de Portugal julgavam-se imbuídos da uma missão: encontrar cristãos no Oriente, expandir a fé católica e cercar os muçulmanos para enfim conquistá-los. Desde séculos antes na Europa medieval corriam lendas de que havia um poderoso reino cristão em algum lugar além do Egito, da Arábia ou da Turquia, talvez na Índia ou na Etiópia, ninguém sabia ao certo.
Pedro Álvares Cabral não era propriamente um navegador, tampouco um comerciante. Seu papel na expedição era principalmente de servir como um comandante “diplomático” ou mesmo militar. Os propósitos todos da expedição lhes foram passados por escrito: o que fazer, como agir, o que procurar etc.
E foi em meio a esse contexto que a expedição de Cabral se organizou. Importante para nós, brasileiros, notar que a expedição não visava “descobrir” o Brasil (ainda que alguns especulem sobre essa possibilidade, qual seja, de já se saber que esta terra existia e aproveitar a viagem para confirmar).
Os olhos de todos estavam voltados para o oriente, para as Índias e as ricas mercadorias que de lá eram vendidas na Europa.
E era isso que passava pelas cabeças daquelas pessoas embarcando nas caravelas em Lisboa no dia 9 de março de 1500.